Promotor
Teatro Municipal Joaquim Benite
Breve Introdução
Um D. João Português marca o regresso de Luis Miguel Cintra ao trabalho, na companhia de um grupo de actores cujo percurso se cruzou com o do extinto Teatro da Cornucópia. Juntos visitaram, no último ano, quatro cidades portuguesas (Montijo, Setúbal, Viseu e Guimarães), numa série de residências artísticas que lhes permitiram ir preparando e apresentando, à vez, as quatro partes em que dividiram um espectáculo baseado numa tradução setecentista, anónima, da peça D. João, de Molière. A versão integral estreou em Janeiro, em Guimarães, e apresenta-se agora em Almada, em duas partes. Na primeira, acompanhamos a fuga de D. João e do seu criado Esganarelo, depois de o primeiro ter morto o pai de uma amante e voltado as costas a D. Elvira, a quem prometera casamento. Na segunda, o herói prepara-se para oferecer um jantar à estátua do comendador morto, mas as recriminações de um credor, do próprio pai e de D. Elvira vêm adiar o seu encontro com o cadáver. O protagonista, no entanto, parece incapaz de sentir remorsos. E a adaptação de Luis Miguel Cintra evita a sua condenação, complexificando assim, ainda mais, a reflexão sobre a actual crise de valores, o conceito de responsabilidade individual e colectiva, e as noções de Bem e de Mal.
Ficha Artística
a partir de Comédia nova intitulada O convidado de pedra ou D. João Tonorio, o dissoluto, de Molière (tradução portuguesa de 1785). Inclui O mendigo ou O cão morto, de Bertolt Brecht
dramaturgia e encenação de Luis Miguel Cintra
Interpretação André Reis, Bernardo Souto, Dinis Gomes, Diogo Dória, Duarte Guimarães, Guilherme Gomes, Joana Manaças, João Jacinto, João Reixa, Leonardo Garibaldi, Levi Martins, Luís Lima Barreto, Luis Miguel Cintra, Maria Mascarenhas, Nídia Roque, Rita Durão, Sílvio Vieira e Sofia Marques
Direcção de produção Levi Martins
Assistência de produção e encenação Maria Mascarenhas
Luz e som Rui Seabra
Notas Suplementares
10 de Março (1ª parte) e 11 de Março (2ª parte), 2018
Sábado às 21h Domingo às 16h
Informações Adicionais
No dia 10 de Março, às 18h, recebemos no foyer do TMJB o encenador e o produtor de Um D. João Português: Luis Miguel Cintra e Levi Martins. Este projecto, um dos primeiros que o encenador abraçou depois do fim do Teatro da Cornucópia, marcou o início de uma nova etapa na sua carreira, subordinada a novos paradigmas de produção e financiamento. Em declarações recentes ao Observador, Luis Miguel Cintra reconhece mesmo que, hoje em dia, olha para a frente como se estivesse a começar. No entanto, para Levi Martins, um dos nomes da nova geração de criadores nacionais, as condições de trabalho nunca foram outras. Por isso, quando classifica de insensato um empreendimento como Um D. João Português, é apenas para enfatizar a necessidade diária de remar contra a maré. Neste sentido, é legitimo perguntar em que medida estes factores influenciaram o resultado final. E se, por acaso, as duas gerações não trocaram de papéis, com os mais novos a mostrarem aos mais velhos como é que, agora, funcionam as produções independentes. Como é que as expectativas se conformam com a realidade? Por outro lado, Um D. João Português é fruto de uma dramaturgia interessantíssima, que mistura uma tradução portuguesa da peça de Molière, o texto original francês e uma curta peça de Brecht intitulada O mendigo ou O cão morto. Que princípios nortearam esta selecção? Por que razão foi o espectáculo ganhando a forma de um road movie? E o que tem para nos dizer hoje um D. Juan incapaz de conciliar a cabeça e o coração, ao ponto de Luis Miguel Cintra o comparar a Álvaro de Campos? O que há de tão especial nesta personagem para que o encenador continue a lamentar não ter tido a oportunidade de a interpretar em palco?